Flavio Pereira Senra é professor de Língua Portuguesa e Literaturas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. É autor de diversos contos e poemas. As instituições estão funcionando normalmente é seu primeiro romance.
As Instituições estão funcionando normalmente é um romance ambientado num futuro próximo hipotético (mas não inverossímil), em que o Brasil está sob a mais eficaz forma de regime neofascista: aquele que se disfarça de plena democracia. A narrativa acompanha a trajetória de Acrísio, técnico-administrativo em uma das poucas universidades federais que ainda não foram tomadas pela junta militar-empresarial que comanda o país. A vida desse trabalhador comum muda quando, naquilo que parecia ser somente mais um dia qualquer, a secretaria onde trabalha é invadida por agentes do Estado, que efetuam a sua prisão de forma violenta e espetacularizada, sob acusação de ele ser parte de uma suposta célula de guerrilheiros comunistas infiltrados na universidade. A partir daí, Acrísio terá que enfrentar tanto com seus pesados dramas familiares quanto os horrores dos porões da democracia brasileira.
Esta ficção especulativa distópica tenta responder a uma pergunta: se o Brasil continuar nesse rumo, aonde poderemos chegar? Trata-se de um contexto sociopolítico em que opositores do governo são perseguidos, especialmente se forem ligados a partidos ou organizações de esquerda. Militares, numa caçada ao que definem de “terroristas socialistas”, tomam diversas instituições de ensino público, que logo em seguida são entregues para grandes conglomerados da educação privada. Drones armados sobrevoam os céus das capitais, especialmente nas regiões mais pobres. Várias periferias estão sob pesada intervenção militar, num suposto projeto de “manutenção da segurança”. Inúmeras organizações paramilitares surgem pelo país: esquadrões da morte, grupos armados neonazistas e milícias ultranacionalistas de extrema-direita.
Após anos de um projeto ultraneoliberal de “desinvestimentos”, quase todas as estatais foram privatizadas, o que gerou consequências drásticas para a população. A água é um item de luxo, com muitas regiões do país sofrendo crises hídricas. Apagões são frequentes em praticamente todas as cidades. Cada vez mais lotes da Amazônia são leiloados a empresas estrangeiras. O sistema carcerário, também vendido à iniciativa privada, planeja transformar os detentos em mercadoria, alugando-os como cobaias para laboratórios ou como mão-de-obra escravizada de grandes construtoras.
O governo justifica suas ações alardeando um constante risco de “terroristas comunistas” darem um golpe no país e acabarem com as “liberdades democráticas”, um discurso paranoico endossado pela grande mídia burguesa e os aparatos disparadores de fake news. É um cenário em que um sentimento de esquerdofobia é recorrente no senso comum, e qualquer indivíduo pode ser subitamente denunciado, perseguido ou até “desaparecido”.
Além do texto de Flavio Pereira Senra, As instituições estão funcionando normalmente conta com ilustrações de Alvaro Maia (artista da graphic novel Kriança Índia). Há ainda passagens no formato de HQs intercaladas com o texto em prosa, o que confere mais dinamismo à trama. O estilo marcante de Álvaro traduz com perfeição a conturbada vida do protagonista Acrísio neste ambiente sufocante e repressor.
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Flexível, plástico, moldável. Porta e túnel do tempo, outra dimensão...
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